Tubarão
Medico morreu por amor à sua esposa
A redação do jornal A Crítica recebeu um e-mail de
um parente, que preferiu não se identificar, dizendo que o médico morto essa
semana, Dr. José Antonio Matzenbacher Varella, não foi um herói, mas, também
não foi um homem maldoso e que tudo o que ele fez refletiu diretamente nele
mesmo. Abaixo, o e-mail relatando um pouco de sua história:
“Com maestria criava belos desenhos, era amante da
arquitetura, área em que cursou na universidade os semestres iniciais. Após uma
desilusão amorosa, aos 24 anos de idade optou por mudar de curso superior, como
acadêmico de Medicina. Tinha como propósito mostrar a ex-namorada o seu
potencial ao que foi surpreendido por uma paixão, a de ser médico. Um gaúcho
determinado e inteligente, em São Paulo cursava residência médica em
anestesiologia quando recebeu convite de amigos íntimos, também médicos, para
um novo desafio no sul de Santa Catarina. Na década de 90, estava atuando num
hospital da Região o então Doutor, como clínico geral e também auxiliando os
centros cirúrgicos com a anestesia. Neste mesmo hospital se apaixonou por uma
menina humilde. Ela como secretária do hospital tinha ali seu primeiro emprego.
Embora a menina não lhe desse qualquer oportunidade, (pois era comprometida com
um jovem rapaz), ele insistia diariamente por sua atenção. Como obra do destino
o namoro foi rompido e finalmente o Doutor firmemente investiu em uma relação
amorosa com a menina, agora livre. Enamorados, o Doutor querendo viver em matrimônio
cedeu à determinação do pai da menina e em outubro de 1996 celebraram o seu
casamento. Numa modesta igreja, cercados dos parentes e amigos, regidos pelo
Padre seu confidente, entoados pela música “Amigos para Sempre”, trilha sonora
que sem saberem previa o futuro do casal:
“Você pode estar
longe, muito longe sim
Mas por te amar, sinto você perto de mim
E o meu coração contente
Mas por te amar, sinto você perto de mim
E o meu coração contente
Não nos perderemos,
não te esquecerei
Você é a minha vida, tudo que sonhei
E quis para mim um dia” (Jayne)
Você é a minha vida, tudo que sonhei
E quis para mim um dia” (Jayne)
Antes mesmo de completar um ano de casamento, em
agosto de 1997, enquanto o Doutor cumpria seu plantão médico no hospital, a
menina agora esposa, sofre um violento e fatal acidente de carro na BR 101. O
Doutor perdeu seu chão, sua razão de viver. Por ser bem mais velho que sua
esposa sempre acreditou que ele morreria antes. Como isto pode acontecer? E
seus planos? A menina queria filhos, mas o Doutor pediu que aguardassem até que
a mesma concluísse um curso superior. A menina morreu dirigindo, foi o Doutor
que lhe incentivou a aprender a dirigir e fez as primeiras demonstrações. Seu
carro estava à disposição da sua esposa, pois a queria autônoma e preparada
para quando ele não mais estivesse ao seu lado, entendendo que viveriam a ordem
natural das coisas. O sentimento de culpa o assolava a todo instante. Passados
dois anos de muita tristeza o Doutor tenta reconstruir sua vida. Passa a
clinicar em prol da saúde da família em municípios da região. Sua prática sem
rodeios é carregada de conceitos médicos e também de sua experiência de vida.
Incompreendido por muitos, segue cultivando um dos seus amores, aquele que
ainda existia no mundo físico, a medicina. Aventura-se em novas relações
amorosas, tem até uma relação estável. Com sua transparência tradicional sempre
deixou claro às companheiras de que só houve um amor em sua vida, à esposa
falecida e que nunca, nenhuma ocuparia o seu lugar de honra, mesmo na cômoda ao
lado da cama onde repousava o seu retrato. Como de se esperar, na sua
intimidade, só lhe restou à companhia das fotos frias da esposa falecida e o
amor que lhe aquecia o coração. Vivendo sozinho nos últimos anos, adotou um cão
pastor alemão com o nome de “Guri”. O Doutor buscava então reviver bons
momentos do passado em que junto com a esposa falecida tiveram um cão da mesma
raça e com o mesmo nome. Foram 16 anos desde a morte da esposa que o Doutor
viveu em tristeza e sofrimento. Nesta jornada falsos amigos o rodearam de bem
estar artificial. Resolveu isolar-se e comungar sozinho com o amor que há anos
o acompanhou. Infelizmente, fez más escolhas mesmo que tenham sido sem maldade,
pois seu objetivo era ter pelo menos alguns momentos de prazer nesta tão dura
encarnação. Sua história não justifica algumas de suas ações, mas não há como
desprezá-la.
Descanse em paz Dr. José Antonio Matzenbacher
Varella, agora habitando o mesmo túmulo que sua tão amada esposa.
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