quarta-feira, 13 de novembro de 2013

A perda traz sofrimento e amadurecimento. Põe nossos valores à prova. É o motor mais poderoso para fazer pensar sobre o que realmente importa


Viva e deixe morrer
Vida e morte, perda e ganho são lados da mesma moeda desde a Antiguidade. Para algumas correntes da filosofia grega, quem sabe morrer é aquele que aprendeu a viver. Assim, morte e vida completam-se. Esse veículo poderoso de renovação está presente em suas mitologias, como no episódio do nascimento do tempo, resultado da separação dolorosa entre o céu e a terra. É o mesmo princípio de nossas narrativas indígenas de criação, como a que conta que a vitória-régia surgiu depois que uma índia se afogou por amor à lua - é por isso que ela abre suas pétalas à noite. São histórias que tentam dar sentido à dor do adeus e ao milagre dos nascimentos.
“A perda traz sofrimento e amadurecimento. Rompe os laços que construímos, destrói as ilusões, põe nossos valores à prova. É o motor mais poderoso para fazer pensar sobre nossos dias e o que realmente importa”, diz Franklin. E a morte, a grande perda a que todos estão expostos e destinados, eleva essa reflexão à última potência. “A melhor maneira de se preparar para a última despedida é viver o dia presente, pleno de significado. Essa é a reflexão mais profunda que a morte nos traz.”
As perdas, assim, seriam o termômetro mais confiável de como anda a temperatura da vida. Quanto mais repleta de significados, menos as despedidas são um temor. Deixam de ser tabus para se tornar motores de renovação, parte do cotidiano. Sem esquecer, é claro, todo o sofrimento e dor que trazem. “Num sentido profundo, não é possível ganhar nada sem a mediação de uma perda”, diz Julio Cabrera, professor de filosofia da Universidade de Brasília e autor de livros na área. É a falta que nos dá a medida dos ganhos, assim como a morte põe à prova o valor da vida. Nesse sentido, falar sobre despedidas e perdas ajuda a tornar nascimentos e novidades mais plenos.
“Nascemos para a morte, mas toda a estrutura das nossas sociedades constrói o esquecimento desse fato e nos atordoa por meio de diversões, tarefas profissionais e atividades cotidianas que não nos deixam pensar na nossa condição mortal”, afirma o professor. “Assim, quando a dor e a morte aparecem, surgem como se fossem fenômenos excepcionais, raros e intempestivos, para os quais nunca estamos preparados.” Viver profundamente as despedidas é a melhor maneira de superá-las. Nascimento, amadurecimento e morte é o caminho natural que todos os homens trilham.
“Vivemos em sociedades construídas em torno da rejeição, exclusão ou esquecimento da morte. Juventude, beleza e bens são efêmeros e podem acabar a qualquer momento. Não deveríamos nos apoiar neles de maneira total”, diz Julio. “Morte e mortalidade são vistas como ceifadoras por causa dessa maneira falsa de organizar nossa vida. Seríamos melhores e mais plenos se aceitássemos essa ideia tranquilamente.”


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